Aquilo que era evidente para todos, desde sempre, não o era para Aurea: cada vez que ela cantava, família e amigos, colegas e professores, compreendiam que a música estava cravada, de forma indelével, no seu destino. Hoje, é um dos nomes mais aplaudidos da música portuguesa, reconhecida pelo público e pela crítica. Todos sempre o souberam mas ela teimava em duvidar.
A verdade é que a música esteve sempre lá, dos pontapés dados antes de nascer, em resposta à guitarra tocada pelo pai, aos rebuçados que serviam de pagamento para as primeiras atuações no seio familiar. Pensou tornar-se psicóloga e estudou Linguística mas é um curso de teatro que acaba por lhe mudar a vida.
Aurea nasceu em Santiago do Cacém e cresceu em Silves, sendo Armação de Pêra o lugar onde subiu pela primeira vez ao palco, quando participa em noites amadoras de fado. Enquanto frequenta a licenciatura em Artes Cénicas, em Évora, uma professora aconselha-a a deixar o Teatro e enveredar pela ópera mas acaba por ser na soul que Aurea descobre a sua grande personalidade. Depois de ouvi-la cantar pela primeira vez, numa sala no Convento do Carmo, Rui Ribeiro, que se tornaria o seu eterno colaborador musical, compõe uma canção que Aurea não grava por inteiro – ela tinha um autocarro para apanhar, ele tinha a certeza que a sua voz era uma pérola que o mundo precisava de conhecer. Levou “Broken Pieces” à produtora com quem trabalhava e o resto, como se costuma dizer, é história.
A menina que se habituou a atuar descalça porque é assim que se sente confortável, tornou-se uma figura incontornável no panorama musical português assim que o país ouviu “Okay Alright” ou “Busy (For Me)”. Corria o ano de 2010 quando edita o primeiro álbum, o homónimo que atinge a marca da Dupla Platina, feito repetido com “Ao Vivo no Coliseu dos Recreios”, de 2011. Regressa aos originais no ano seguinte, com “Soul Notes”, mas, entretanto, arrecada dois prémios consecutivos da MTV e um Globo de Ouro, interpreta “Love Me Tender”, em dueto virtual, em “Viva Elvis The Album” e viaja aos quatro cantos do mundo, com momentos tão memoráveis quanto aquele em que canta lado a lado com Adam Lambert, em Xangai.
Revela-se compositora em “Restart”, o disco de 2016 que foi gravado em Las Vegas e que contou com a produção de Cindy Blackman e Jack Daley, mas é em “Confessions”, editado dois anos depois, que se assume em absoluto, ao mergulhar nas muitas influências que carrega para lá da soul, da pop ao r&b passando pela eletrónica e pelo jazz. É neste disco, em que dá vida e torna canção os segredos que outros partilharam consigo, que sobressai “Done With You”, uma prenda de Carolina Deslandes.
2018 havia de tornar-se, aliás, um ano inesquecível para Aurea: depois de ter assegurado a maior enchente de sempre na Passagem de Ano do Porto, reunindo mais de 200 mil pessoas na Avenida dos Aliados, seria distinguida com o Troféu de Televisão para Melhor Genérico, por “A Impostora”, da TVI, constando, ainda, no Top 15 das figuras portuguesas mais seguidas no Facebook. A sua presença nas redes sociais seria, igualmente, motivo de orgulho em 2019, quando ocupa a 2ª posição do Top 3 de Figuras Públicas e Digital Influencers, sendo líder na faixa etária entre os 15 e os 24 anos, e surgindo no Top 100 do Instagram em Portugal, de acordo com a Starngage.
Com centenas de milhares de seguidores, a beleza de Aurea foi o rosto de marcas como Mary Kay, Dr. Wells e C&A, sendo, atualmente, embaixadora da Clarins, depois de ter assegurado as mesmas funções na Seat, durante três anos.
Sempre devota a novos desafios é, desde 2015, uma das mentoras do programa da RTP “The Voice”, onde reencontra a amiga Marisa Liz, com quem, em 2019, se lança na aventura Elas, concretizada no álbum “9”. Depois de dar voz às versões portuguesas de filmes como “Happy Feet 2” ou “Patrulha de Gnomos”, é também em 2019 que se estreia como atriz, não só na novela “Nazaré”, transmitida pela SIC, como na curta-metragem “A Escritora”, realizada por Hugo Pinto.
Em apenas uma década, Aurea pode ter-se tornado um nome multiplatinado da constelação da música portuguesa mas nunca deixou de se encantar pela magia da música. Muito mudou na vida de Aurea mas Aurea, na verdade, não mudou. É a música a sua grande parceira de vida e é também esse o seu grande amor.